Um papo sobre keycaps

By | 28/04/2017

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Teclados mecânicos são um mercado de nicho. Em crescimento, pelas notícias que leio na imprensa especializada estrangeira, mas ainda assim um mercado de nicho. Keycaps personalizadas podem então ser classificadas como nicho do nicho, ainda mais se falarmos do mercado brasileiro, que é basicamente inexistente neste aspecto.

Lá fora, em especial nos EUA, a situação é um pouco melhor, com alguns fabricantes produzindo keycaps personalizadas. Algumas delas, como a taiwanesa Tai-Hao, produzem keycaps de relativo baixo custo, mesmo usando o processo doubleshot (explicarei isso em instantes). Porém, estas keycaps deixam a desejar no controle de qualidade e em sua inconsistência nas legendas (experiência própria: tenho dois keysets da Tai-Hao, um em ABS e o outro em PBT). No outro lado do espectro, temos empresas como a americana Signature Plastics, com suas keycaps em perfis altamente desejados no momento no mercado estrangeiro (em especial os perfis DSA e SA), e a alemã GMK, que há alguns anos comprou da Cherry os moldes para a fabricação de keycaps e continuam a produzí-las. Ambas as empresas produzem keycaps de alta qualidade, numa variedade de processos (inclusive doubleshot), mas com preços que há dois anos já eram altos, mas hoje estão beirando o absurdo.

Entretanto, lembrem-se que keysets são fabricados normalmente apenas no layout ANSI americano. A Europa tem o 2° maior mercado mundial para teclados mecânicos, mas o fato de cada país ter um layout nacional próprio dificulta a produção de keysets por lá. Em compras coletivas de keycaps é corriqueira a presença de kits extras com teclas para alguns países da Europa, normalmente Inglaterra, Alemanha e países nórdicos. O resto fica a ver navios.

Isto posto, falemos dos aspectos físicos das keycaps. São eles:

  • a compatibilidade da haste com o switch desejado;
  • o perfil da keycap;
  • o material utilizado;
  • a forma de gravação da legenda;
  • a textura.

Compatibilidade

Trata-se de para qual tipo de switch a keycap foi feita. Normalmente estamos falando do Cherry MX, mas há alguns raros keysets feitos para switches Alps. Keycaps para outros tipos de switches, como Topre ou buckling springs, são ainda mais raras, inexistentes ou disponíveis apenas com o próprio fabricante do teclado com o switch em questão.

Perfil

Já reparou que se você colocar uma tecla fora de posição num teclado, ele fica “destoando”? Isso acontece porque, em geral, teclados (mecânicos ou não) usam teclas com perfil esculpido, que formam uma curva contínua se você olhar o teclado de lado – se não for de laptop ou da Apple, que costumam usar keycaps planas (ou flat, no jargão em inglês).

Existe uma miríade de perfis de keycaps, mas podemos resumir as mais populares aos perfis Cherry (esculpido, topo cilíndrico), DSA (flat, topo esférico), SA (esculpido, topo esférico) e OEM (esculpido, topo cilíndrico). Este gráfico ilustra cada um destes, assim como vários perfis antigos para comparação.

Material

Trata-se do tipo de termoplástico utilizado para a fabricação das keycaps. Alguns artesãos fazem teclas de metal, normalmente alumínio, mas são produtos artesanais e devem ser tratados mais como arte. Os mais comuns são a acrilonitrila butadieno estireno (ABS) e o tereftalato de polibutileno (PBT), com o polióxido de metileno (POM) sendo usado em algumas raras situações.

Uma questão “polêmica” a respeito do plástico tem a ver com o desgaste natural decorrente do uso, que em inglês é chamado de “shinning”: aquela situação em que a tecla começa a brilhar por causa do desgaste provocado pelo atrito e pelos óleos que a pele humana libera. Tanto o ABS quanto o PBT são afetados por este fenômeno, sendo o PBT mais resistente que o ABS. Entretanto, isso não quer dizer que o PBT seja “superior” ao ABS, são materiais diferentes com características físicas diferentes. Por exemplo: o PBT pode ser mais resistente ao “brilho”, mas em compensação ele é inadequado para a criação de legendas no processo doubleshot, sendo o ABS perfeito para isso.

Legendas

Há 4 formas de gravação de legendas:

  • Pad-printing: utiliza-se tinta epoxy na superfície da keycap, que normalmente é coberta com uma camada protetora transparente. É o processo mais barato (excluindo-se o uso de keycaps em branco), mas também é o menos permanente: com o uso essa impressão acaba descascando e sendo removida.
  • Laser engraving: um laser desenha as legendas nas teclas, criando pequenos sulcos que normalmente são preenchidos de tinta. As legendas são mais duráveis que no processo pad-printing, mas é comum o acúmulo de sujeira nos sulcos das legendas.
  • Dye-sublimation: neste processo aplica-se uma tinta específica nas keycaps num processo envolvendo pressão e alta temperatura, de forma que a tinta acaba combinando-se ao plástico no nível molecular. As legendas são permanentes, você tem que raspar o plástico da keycap para tirá-la. Além disso, este processo permite a utilização de gráficos e cores, sendo uma das melhores opções disponíveis. Entretanto, não se pode usar este processo na criação de legendas claras em keycaps com plásticos escuros, limitando as opções disponíveis.
  • Doubleshot: neste processo a legenda não é impressa. Como o próprio nome implica, há dois processos de injeção de plástico envolvidos: um criando uma peça contendo a legenda, e outro em que esta primeira peça é parcialmente coberta, criando-se assim a keycap. Este vídeo feito na Signature Plastics mostra como são feitas keycaps no processo doubleshot. É um processo que exige alto envolvimento manual, o que encarece as keycaps, mas ele permite que qualquer combinação de duas cores seja utilizada. No passado existiu teclados usando keycaps feitas em tripleshot, mas estamos falando dos anos 1970, este processo não é mais usado para keycaps.

Textura

Existe um entendimento errôneo de que a textura das keycaps é resultado direto do material utilizado. Na verdade, a textura vem do molde utilizado na produção das keycaps. Falando em termos gerais, o produto feito usando injeção de plástico “copia” a textura do molde. Assim, keycaps texturizadas o são em função da textura aplicada no molde, não por causa de serem feitas de ABS ou PBT ou qualquer outro material.